segunda-feira, 2 de abril de 2012
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Intimidade e Interioridade
O meu corpo e o seu interior
Este artigo irá reflectir sobre o pensamento que José Gil expõe a cerca de interioridade no seu livro Metamorfoses do Corpo. O local físico da alma é uma questão posta pelo filósofo e será aqui tratada. Ainda relativamente à interioridade e juntando ao tema a intimidade, será exposto o método de trabalho da coreógrafa Pina Baush que tem como eixo do seu trabalho a interioridade revelada pelo corpo.
Relativamente à interioridade a grande questão colocada por José Gil é: “aonde se situa o interior?” [José Gil, in Metamorfoses do Corpo, 1997, p.154]. A nível exterior todo o corpo é expressivo, principalmente o rosto, mas e a nível interior? Se existe um exterior tem de existir um interior mas este interior não está num sítio especifico do exterior, nem sequer está em sítio nenhum físico porque é espírito ou alma. Então, como é que o nosso olhar vê o espírito do outro? Para um interior pertencer a um exterior, e se este exterior se insere num espaço específico, então, também o interior se vai inserir nesse mesmo espaço. Logo, o nosso interior situa-se no nosso corpo.
Quando olhamos para o corpo de uma pessoa não vemos só o exterior dessa pessoa, não olhamos simplesmente para um corpo, vemos também o interior, e para onde olhamos para ver esse interior? Embora não consigamos situar a alma em sítios específicos como na cabeça ou no coração temos de partir do princípio que a alma está num lugar para onde possamos olhar, caso contrário falaríamos com um corpo inanimado. Quando falamos com outra pessoa fazemos-nos ouvir, portanto, por um lado é como se falássemos para os ouvidos. No entanto, o que nos compreende não são os ouvidos mas sim o espírito. Então, para sermos entendidos juntamos à palavra o olhar, olhamos para o olhar do outro tentando alcançar o seu interior. Também com gestos como um abraço tentamos alcançar o interior. Assim, José Gil conclui que o interior não é na superfície do corpo mas existe como uma continuação dessa superfície. Olhos, boca, poros da pele, ouvidos, todos os orifícios são como uma porta para a nossa alma. O interior é assim cada uma das partes do exterior que funcionam como acessos mais ou menos directos da alma.
A imagem do local onde se encontra o “alter ego” do outro tende a situar-se numa zona do espaço específica que é dento da cabeça sem ser propriamente num sítio específico como no cérebro. A nível da percepção do “eu” de cada sujeito, este deve-se encontrar atrás do rosto , funcionando como um ecrã que faz a separação entre o exterior e o interior. José Gil conclui que “o sujeito da percepção situa-se no limite, na zona fronteiriça entre o interior e o exterior.” [José Gil, in Metamorfoses do Corpo, 1997, p.154]
Torna-se pertinente neste artigo reflectir sobre os métodos da coreógrafa alemã Pina, criadora do conceito dança-teatro, que desde sempre tem vindo a trabalhar questões relacionadas com a interioridade. Explora a cima de tudo a vida, as pessoas e aquilo que mexe com as pessoas.
Pina Baush tenta sempre conciliar a dança com aquilo que sente e que deseja exprimir e por vezes, aquilo que sente não se traduz em dança mas sim em movimentos mais simples que exteriormente podem não parecer dança mas que para ela é dança. Afirma: “Dentro das pessoas existe muita dança, até quando não se mexem.” [Leonetta Bentivoglio, in O teatro de Pina Baush, 1991, p.13].
O seu método de trabalho é também ele muito ligado à interioridade. A base dos seus espectáculos nasce sempre a partir de perguntas que ela faz aos bailarinos e eles respondem-lhe e mostram-lhe coisas. A elaboração dos movimentos é algo que se faz depois. Portanto ela trabalha do interior para o exterior. Faz aos bailarinos perguntas muito pessoais sobre os seus carácteres e sobre as suas vivências. Os espectáculos de Baush nascem da junção de algumas destas respostas, depois juntam-se fragmentos e o espectáculo acaba por tomar rumo desta forma.
Baush afirma que os seus espectáculos não começam do início para o fim mas sim do interior para o exterior. Até na escolha dos bailarinos a coreógrafa procura pelo interior. Ela não os escolhe por dançarem bem ou mal mas escolhe-os pelos olhos, alguém que lhe desperte curiosidade. Gosta de bailarinos tímidos e diz que essa é uma característica comum dos seus bailarinos.
O caminho da coreógrafa é em direcção da descoberta da natureza criativa mais profunda de todos os seus bailarinos. É uma busca contínua de naturalidade e de comportamento que se exprime sem qualquer postura social ou cultural. São pelo menos dois meses de ensaios com perguntas. Ela faz os seus bailarinos descobrirem-se a si próprios, ao responderem às perguntas dela descobrem por vezes novas coisas em si e sobre si próprios. As respostas podem ser dançadas, faladas, escritas, gesticulada. Este método, por ir tanto ao interior de cada um, a nível emocional tem riscos e os bailarinos por vezes não respondem a determinadas perguntas que lhes podem tocar muito fundo. Às vezes responderem a certas questões são esforços quase insuportáveis pois são muito dolorosos,. Sentem-se atingidos com as perguntas.
Por vezes as imagens dos espectáculos nascem de sonhos de bailarinos. Ilustram com simplicidade e evidência sensações e emoções narrando experiências autênticas, profundas e pessoais. Muitas vezes são os próprios bailarinos por sua iniciativa vão ter com a coreógrafa e mostram-lhe novos movimentos ou qualquer coisa nova que aprenderam e muitos dos materiais utilizados nos seus espectáculos nascem directamente das experiencias de vida dos bailarinos. Para todos estes bailarinos o trabalho e a vida coincidem.
Não é só em termos de interioridade que o trabalho de Pina Baush é pertinente para este artigo, mas também a nível de intimidade. Para poder alcançar o interior dos seus bailarinos, Baush tem de criar uma relação de grande intimidade com eles. Para eles lhe responderem a certas questões pessoais já tem de haver um certo nível de à vontade e de intimidade. Esta intimidade é algo que se vai criando constantemente, visto que é um grupo de pessoas que convive diariamente e muitas vezes em digressão.
As minhas imagens são referentes a um workshop de dança em que participei em 2003 com o tema “improviso”. Foi um solo de dez minutos em que me senti muito exposta pois ao improvisar dançando não estava a representar nenhuma personagem. Talvez por isso os meus movimentos tenham começado por ser abertos e grandes e tenham terminado fechados e pequenos. Por experiência própria posso dizer que a improvisação no teatro é muito menos expositiva que a improvisação na dança. No teatro é fácil, é pensar numa personagem e improvisar palavras, gestos, atitudes a partir daí, na dança somos nós próprios que nos expomos. Neste ponto estou de acordo com Pina Baush. Embora o seu trabalho esteja muito ligado ao teatro, Baush prefere trabalhar com bailarinos em vez de actores, diz que os bailarinos são mais verdadeiros e mais naturais e isso vai de encontro à sua procura da verdade e simplicidade nas pessoa. Os actores acabam sempre por representar enquanto que os bailarinos mostram-se tal como são e em palco são eles próprios. Mesmo a nível de voz, a coreógrafa diz que num actor por vezes parece que aquela voz não vem daquele corpo e num bailarino ele fala mesmo com a sua voz.
Neste solo senti que toda a minha interioridade estava toda à vista, pois tive de recorrer a imagens interiores, sensações e lembranças, para a partir daí criar movimentos. À semelhança do método de Pina Baush, o que funciona aqui é o trabalhar do interior para o exterior, e a nível de concepção de movimentos improvisados não consigo conceber outro método.
A nível técnico a imagem não é boa porque foi filmada com uma câmara fotográfica.. A repetição é algo muito utilizado nas coreografias de Pina Baush, talvez para reforçar uma ideia, um movimento ou simplesmente para criar um movimento complexo a partir de vários movimentos simples. Assim, para fazer uma ponte entre o seu trabalho e as minha imagens aqui apresentadas, em termos de montagem utilizei muito as repetições. O outro motivo que me levou a repetir determinados movimentos foi precisamente para reforçar a minha exposição, para tentar de alguma forma transmitir como foi possível sentir que a minha interioridade estava tão à vista.
Assim, constata-se que a interioridade, embora não seja directamente visível, aparece em gestos, palavras, acções, e embora esteja protegida por um exterior é ao mesmo tempo muitas vezes denunciada por esse mesmo exterior. Por outro lado é essa mesma interioridade que manipula o exterior de cada um. Por ser um prolongamento do exterior não se desliga do mesmo. Pode-se concluir que por vezes para chegar ao interior do outro é necessário um certo nível de intimidade, não basta olhar, como nos mostra Pina Baush com o seu método, mas outras vezes, como no caso do meu solo de improvisação basta olhar para ver grande parte da minha interioridade. É assim um aspecto complexo perceber os limites do interior e do exterior, em que ponto começa um e acaba outro.
Etiquetas:
alma,
corpo,
experiências,
exterior,
interior,
Interioridade,
José Gil,
Metamorfoses do Corpo,
Pina Baush,
rosto
25 de Abril
domingo, 11 de outubro de 2009
a importância do marketing
A questão não é propriamente a crise mas o que fazer para ultrapassá-la. Boas ideias dão bons resultados como se vê neste filme. Alguém tem ideias para vender? Estou a precisar de algumas.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Freedom
Auto-representação
Na auto representação a pessoa deixa de existir, passando a existir o que está a representar. O artista tem a oportunidade de criar estados psicológicos visuais para construir ou desconstruir uma imagem. Substitui-se assim o auto-retrato convencional por um que pode ser chamado de irreal.
Um auto-retrato não é como um sonho, é como simulações de imagens de sonhos. O artista é manipulado, puxado e reconstruído num outro “estado” que não é real mas que caminha ao seu lado. Há portanto, uma multiplicação de personalidades, alter ego, representação de uma fantasia, é sempre um outro que é confrontado na auto-representação.
As minhas fotografias de auto representação são de uma performance feita por mim em 2003. Há aqui um acto de representação. Neste caso represento um ser não definido que se assemelha a um pássaro mas que vive preso numa gaiola e procura a liberdade. Embora no momento da performance fosse eu que estivesse ali consciente de mim, eu estava a representar uma personagem que vive fora de mim. Naquele momento viveu dentro de mim. Eu era o pássaro preso, triste, sozinho e em busca da liberdade
Pode-se concluir que na Auto-representação, existe uma vontade de desdobramento da personalidade em várias facetas, isto é, em várias identidades. Existe a divisão do Eu em vários Eus. Isto é explicado por Rimbaud no seu “Je est un autre” que assim coloca de fora a identificação ficando completamente livre.
Com maquilhagem ou mudança de roupas, o Eu pode-se tornar qualquer pessoa. O imaginário torna-se numa imagem. Dá um significado diferente ao aspecto do Eu. Foi precisamente o que aconteceu na minha auto-representação, a maquilhagem e figurinos reforçaram minha a encarnação naquela personagem. Ou seja, o aspecto exterior ajuda a criar um estado interior que não nos pertence mas sim à personagem que representamos.
Relativamente aos seus trabalhos Helena Almeida diz: “Não são auto-retratos pois não encontro neles a minha “subjectividade” mas sim o meu “plural” que faço comparecer numa espécie de cena.” Refere ainda que executa encenações dentro do seu espaço pictórico, considerando a sua tela como se de um palco se tratasse, onde surge como sendo uma ficção. Fala-nos de cenas e de narrativas , como se descrevesse uma cena em cima de um palco. Diz ”ser uma irrealidade”. No caso da minha auto-representação, ao contrario do caso de Helena Almeida, a acção não foi feita para ser registada em fotografias e para a obra apresentada ao público ser a fotografia, mas sim o oposto. Primeiro houve a ideia da acção e houve a representação e a fotografia acaba por surgir como consequência da acção e apenas para registo, não para servir como obra final. No entanto, não deixa por isso de ser auto-representação, pelo contrario, ainda reforça mais este conceito.
As fotografias estão a preto e branco para aumentar o contraste entre a minha personagem e o mundo que a rodeia e também para reforçar a ideia de irreal. São aqui apresentadas cinco fotografias porque achei que uma não seria suficiente para construir uma narrativa e porque estas imagens complementam-se umas às outras funcionando o conjunto como uma só auto-representação.
Um auto-retrato não é como um sonho, é como simulações de imagens de sonhos. O artista é manipulado, puxado e reconstruído num outro “estado” que não é real mas que caminha ao seu lado. Há portanto, uma multiplicação de personalidades, alter ego, representação de uma fantasia, é sempre um outro que é confrontado na auto-representação.
As minhas fotografias de auto representação são de uma performance feita por mim em 2003. Há aqui um acto de representação. Neste caso represento um ser não definido que se assemelha a um pássaro mas que vive preso numa gaiola e procura a liberdade. Embora no momento da performance fosse eu que estivesse ali consciente de mim, eu estava a representar uma personagem que vive fora de mim. Naquele momento viveu dentro de mim. Eu era o pássaro preso, triste, sozinho e em busca da liberdade
Pode-se concluir que na Auto-representação, existe uma vontade de desdobramento da personalidade em várias facetas, isto é, em várias identidades. Existe a divisão do Eu em vários Eus. Isto é explicado por Rimbaud no seu “Je est un autre” que assim coloca de fora a identificação ficando completamente livre.
Com maquilhagem ou mudança de roupas, o Eu pode-se tornar qualquer pessoa. O imaginário torna-se numa imagem. Dá um significado diferente ao aspecto do Eu. Foi precisamente o que aconteceu na minha auto-representação, a maquilhagem e figurinos reforçaram minha a encarnação naquela personagem. Ou seja, o aspecto exterior ajuda a criar um estado interior que não nos pertence mas sim à personagem que representamos.
Relativamente aos seus trabalhos Helena Almeida diz: “Não são auto-retratos pois não encontro neles a minha “subjectividade” mas sim o meu “plural” que faço comparecer numa espécie de cena.” Refere ainda que executa encenações dentro do seu espaço pictórico, considerando a sua tela como se de um palco se tratasse, onde surge como sendo uma ficção. Fala-nos de cenas e de narrativas , como se descrevesse uma cena em cima de um palco. Diz ”ser uma irrealidade”. No caso da minha auto-representação, ao contrario do caso de Helena Almeida, a acção não foi feita para ser registada em fotografias e para a obra apresentada ao público ser a fotografia, mas sim o oposto. Primeiro houve a ideia da acção e houve a representação e a fotografia acaba por surgir como consequência da acção e apenas para registo, não para servir como obra final. No entanto, não deixa por isso de ser auto-representação, pelo contrario, ainda reforça mais este conceito.
As fotografias estão a preto e branco para aumentar o contraste entre a minha personagem e o mundo que a rodeia e também para reforçar a ideia de irreal. São aqui apresentadas cinco fotografias porque achei que uma não seria suficiente para construir uma narrativa e porque estas imagens complementam-se umas às outras funcionando o conjunto como uma só auto-representação.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Auto-representação
Trabalho de grupo feito para a disciplina de fotografia e identidade por CÂndida Calongo, Inês Assis e Sofia Gião.
colour_bubble # 57
No auto-retrato deparamo-nos com muitas questões, não é simplesmente olhar para outro rosto interpretado por um artista. Aqui, o artista e o sujeito são a mesma pessoa, portanto a dinâmica de interpretar, ler, analizar, envolve um ciclo de olhar para si próprio, representar-se a si próprio, revelar-se perante si próprio e ter um acto de auto-criação.
Enquanto que numa fotografia normal o artista tem apenas de se preocupar com a superfície que fica registada, num auto-retrato ele tem de conseguir ir além dessa superfície. As questões que se põem aos artistas é como é que eles conseguem ir mais além da superfície quando muitas vezes não há nada mais do que a superfície para trabalhar. Como a superfície é tudo o que há para ver e só se pode ver para além da superfície se esta for trabalhada, muitos artistas trabalham-na através da manipulação, gesto, expressão, roupa, maquilhagem etc.
O auto-retrato é uma representação do “eu”, um substituto que tomará o meu lugar, falará por mim, uma espécie de delegação do “eu”. Um auto-retrato nunca mostra tudo de uma pessoa, mostra apenas o que se quer mostrar, ou um estado de espírito, ou uma emoção ou uma faceta da pessoa ou até vários destes aspectos ao mesmo tempo. Pode tentar mostrar a essência do retratado mas uma personalidade é algo de tão complexo que não cabe toda numa só fotografia.
No meu auto retrato tentei transmitir o meu estado de espírito nesta fase da minha vida em que pela primeira vez estou grávida. É uma experiencia nova para mim e é também um estado de espírito constante. Sinto-me feliz, tranquila, relaxada e fisicamente sinto-me cheia, como uma bolha, mas ao mesmo tempo leve como uma bola de sabão. Fotografei-me na banheira cheia de água para transmitir precisamente a ideia da água, sinto que toda eu sou água. Por outro lado um banho de espuma transmite sempre a ideia de relaxamento. As laranjas também elas redondas e cheias, com as palhinhas são também para reforçar a ideia de lazer e de bem estar, é como estar ao ar livre a beber um sumo de laranja. Os óculos de sol servem também para reforçar o lazer, o ar livre, o relaxamento, a ideia de esplanada, de praia, no fundo, o bem-estar. Com as cores vivas da fotografia, das laranjas, toalhas, óculos, unhas, frasco das bolas de sabão, quis mostrar o meu lado mais pop e a minha forma colorida de ver a vida e de a viver.
Para chegar a esta fotografia foram tiradas 76. A encenação, posicionamento da câmara e enquadramento foram definidos por mim. O mais difícil neste processo foi encontrar a luz que eu queria que era uma luz muito clara e fresca para contrastar bem com as cores e mesmo para dar aquela ideia de banho igual a frescura.
O resultado final ficou exactamente como eu tinha imaginado, consegui transmitir o que queria e penso que esta fotografia mostra uma boa parte de mim neste momento da minha vida.
Enquanto que numa fotografia normal o artista tem apenas de se preocupar com a superfície que fica registada, num auto-retrato ele tem de conseguir ir além dessa superfície. As questões que se põem aos artistas é como é que eles conseguem ir mais além da superfície quando muitas vezes não há nada mais do que a superfície para trabalhar. Como a superfície é tudo o que há para ver e só se pode ver para além da superfície se esta for trabalhada, muitos artistas trabalham-na através da manipulação, gesto, expressão, roupa, maquilhagem etc.
O auto-retrato é uma representação do “eu”, um substituto que tomará o meu lugar, falará por mim, uma espécie de delegação do “eu”. Um auto-retrato nunca mostra tudo de uma pessoa, mostra apenas o que se quer mostrar, ou um estado de espírito, ou uma emoção ou uma faceta da pessoa ou até vários destes aspectos ao mesmo tempo. Pode tentar mostrar a essência do retratado mas uma personalidade é algo de tão complexo que não cabe toda numa só fotografia.
No meu auto retrato tentei transmitir o meu estado de espírito nesta fase da minha vida em que pela primeira vez estou grávida. É uma experiencia nova para mim e é também um estado de espírito constante. Sinto-me feliz, tranquila, relaxada e fisicamente sinto-me cheia, como uma bolha, mas ao mesmo tempo leve como uma bola de sabão. Fotografei-me na banheira cheia de água para transmitir precisamente a ideia da água, sinto que toda eu sou água. Por outro lado um banho de espuma transmite sempre a ideia de relaxamento. As laranjas também elas redondas e cheias, com as palhinhas são também para reforçar a ideia de lazer e de bem estar, é como estar ao ar livre a beber um sumo de laranja. Os óculos de sol servem também para reforçar o lazer, o ar livre, o relaxamento, a ideia de esplanada, de praia, no fundo, o bem-estar. Com as cores vivas da fotografia, das laranjas, toalhas, óculos, unhas, frasco das bolas de sabão, quis mostrar o meu lado mais pop e a minha forma colorida de ver a vida e de a viver.
Para chegar a esta fotografia foram tiradas 76. A encenação, posicionamento da câmara e enquadramento foram definidos por mim. O mais difícil neste processo foi encontrar a luz que eu queria que era uma luz muito clara e fresca para contrastar bem com as cores e mesmo para dar aquela ideia de banho igual a frescura.
O resultado final ficou exactamente como eu tinha imaginado, consegui transmitir o que queria e penso que esta fotografia mostra uma boa parte de mim neste momento da minha vida.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
Rerato e anónimo
Até que ponto se consegue ou não captar a identidade de uma pessoa num determinado momento, através de um retrato de rosto? O que transmite ou o que pretende transmitir cada uma das várias expressões que um rosto pode ter numa fotografia?
sábado, 22 de novembro de 2008
o corpo fragmentado
“A fotografia afecta a nossa maneira de ver pensar e interessei-me em investigar a forma como a realidade é representada na fotografia” David Hockney
Este retrato é feito com base na experimentação. Inspirei-me no trabalho fotográfico de David Hockney que também foi o resultado de investigações e experimentações que levaram a um conjunto de obras que têm como base a unificação da imagem através da fragmentação/ reprodução da mesma.
David Hockney foi um dos grandes contribuidores da Pop Arte. Nasceu em Inglatera em 1937 e foi um dos artistas mais versáteis do séc. XX, foi pintor, fotógrafo, cenógrafo e designer. A sua dedicação à fotografia deu-se sobretudo entre 1982 e 87 . Hockney fazia composições com fotos. Realizou fotocolagens constituidas de múltiplas Polaroides com o objetivo de formar mosaicos. Alterava o espaço fotografado dando ao observador uma imagem manipulada e alterada da realidade.
Este trabalho foi baseado na experimentação de Hockney também com o objectivo de mostrar outras potencialidades do espaço/ retrato, alterando a realidade. O uso da Polaroid deve-se ao facto de estas fotografias estarem sempre mais ligadas a um modo de expressão artística. O resultado destas fotografia nunca é previsível e é sempre surpreendente, quer pelas suas cores, quer pelo ângulo retratado, quer pela focagem ou ausencia desta.
Ao retratar um corpo fragmentado é criada uma nova posição e perspectiva do corpo. O facto de haver na montagem das polaroides espaços vazios obriga o observador a utilizar a imaginação criando linhas e formas de ligação das fotos. Um corpo a dormir numa cama, remete para o sonho, a forma mais distante da realidade, é quando o consciente está mais ausente. Ao mesmo tempo, um corpo a dormir está numa posição relaxada, não pensada, quase natural de mais para ser retratado.
Este retrato acaba por ter dois planos de existência, duas realidades, a que é captada pela polaroide e a que é captada pela montagem, estando os dois intimmente ligados através do elemento comum que é a cama.
Aqui são apresentados dois retratos, um mais pormenorizado e óbvio que o outro, resultados distintos obtidos através da mesma experiência. Um deles remete mais para imaginação e para o “não real” do que outro. O retrato pretende assim uma fuga à realiade através da alteração da mesma, altera-se o corpo, o espaço, as dimesões e a perspectiva. É um exercício que leva à imaginação e a uma nova percepção do corpo.
Este retrato é feito com base na experimentação. Inspirei-me no trabalho fotográfico de David Hockney que também foi o resultado de investigações e experimentações que levaram a um conjunto de obras que têm como base a unificação da imagem através da fragmentação/ reprodução da mesma.
David Hockney foi um dos grandes contribuidores da Pop Arte. Nasceu em Inglatera em 1937 e foi um dos artistas mais versáteis do séc. XX, foi pintor, fotógrafo, cenógrafo e designer. A sua dedicação à fotografia deu-se sobretudo entre 1982 e 87 . Hockney fazia composições com fotos. Realizou fotocolagens constituidas de múltiplas Polaroides com o objetivo de formar mosaicos. Alterava o espaço fotografado dando ao observador uma imagem manipulada e alterada da realidade.
Este trabalho foi baseado na experimentação de Hockney também com o objectivo de mostrar outras potencialidades do espaço/ retrato, alterando a realidade. O uso da Polaroid deve-se ao facto de estas fotografias estarem sempre mais ligadas a um modo de expressão artística. O resultado destas fotografia nunca é previsível e é sempre surpreendente, quer pelas suas cores, quer pelo ângulo retratado, quer pela focagem ou ausencia desta.
Ao retratar um corpo fragmentado é criada uma nova posição e perspectiva do corpo. O facto de haver na montagem das polaroides espaços vazios obriga o observador a utilizar a imaginação criando linhas e formas de ligação das fotos. Um corpo a dormir numa cama, remete para o sonho, a forma mais distante da realidade, é quando o consciente está mais ausente. Ao mesmo tempo, um corpo a dormir está numa posição relaxada, não pensada, quase natural de mais para ser retratado.
Este retrato acaba por ter dois planos de existência, duas realidades, a que é captada pela polaroide e a que é captada pela montagem, estando os dois intimmente ligados através do elemento comum que é a cama.
Aqui são apresentados dois retratos, um mais pormenorizado e óbvio que o outro, resultados distintos obtidos através da mesma experiência. Um deles remete mais para imaginação e para o “não real” do que outro. O retrato pretende assim uma fuga à realiade através da alteração da mesma, altera-se o corpo, o espaço, as dimesões e a perspectiva. É um exercício que leva à imaginação e a uma nova percepção do corpo.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
tempo e memória
Imagens de uma parte da colecção de fotografias da avó Noémia que tem um ou mais albúns para cada familiar, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, netas, netos, bisnetos, filhos, sobrinhos netos, primas e primos.
Trabalho de pesquisa - Índice | Imaginação
"A Imaginação é um poço sem fundo"
Hegel
Hegel
Introdução
Para estudar estes dois temas baseei-me nos estudos dos autores Charles Pierce, fundador do conceito de Índice, e Gilbert Durand, antropólogo que se debruçou sobre o tema da imaginação.
Índice por Pierce
Começando pelo tema ìndice, Charles pierce (1839-1914), natural dos Estados Unidos, licenciou-se em Ciência e doutorou-se em Química, mas era também matemático, físico e astrónomo. Foi ele que fundou o Pragmatismo e a Semiótica- Ciência que estuda os signos. Para explicar o conceito de Índice, terei primeiro de tornar claro o conceito de signo.
Segundo Pierce, “todo o pensamento é um signo (...) Signo (...) é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém(...), cria na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido.(...) O signo representa alguma coisa, o seu objecto. Representa esse objecto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen”. (Pierce, 1977) São no fundo mensagens visuais que utilizam linguagens específicas. O mesmo signo pode ser interpretado de formas diferentes consoante a cultura, o local em que se encontra, ou o conhecimento da pessoa que o interpreta. São vários os factores que podem determinar o significado de um signo.
Para Pierce os signos dividem-se em três partes e a cada uma delas correspondem três tipos de signos. A primeira diz respeito à parte mais material do signo e engloba o qualisigno, o sensisigno e o legissigno. O primeiro é um signo que representa uma qualidade com uma côr, o segundo representa algo como uma toalha de praia e o último existe através de convenções como por exemplo as palavras.
O segundo grupo de signos tem a ver com as relações entre signos e os seus associados e englobam o ícone, o índice e o símbolo. O primeiro assemelha-se ao objecto representado como uma fotografia ou um desenho de algo como uma folha, é no fundo um signo imitativo pois a reprodução de um som também pode ser considerado um ícone; o índice, indica-nos alguma coisa como no ditado “Onde há fumo há fogo” ou o facto de ao vermos o céu cinzento já sabermos que vai chover, são no fundo sinais de que algo vai acontecer ou marcas de que algo já aconteceu; o segundo tem uma relação casual física com o que representa, e o último cria uma imagem mental do seu significado como por exemplo a um autocarro associamos imediamente passageiros.
O terceiro e último grupo é um nível de percepção mais elaborado e considera o signo para quem o interpreta. A este grupo pertencem os signos rema, dicissigno e argumento. Rema funciona como algo que se pode ou não verificar como a palavra amarelo, dicissigno é algo real que pode envolver remas como por exemplo: o amarelo está manchado e o último é um signo que tem significado no âmbito da razão.
Imaginação
Muitos autores têm reconhecido que a imaginação é uma actividade mental distinta da representação e da memória embora esteja ligada a ambas. Está ligada à representação porque surge no seguimento de um conjunto de elementos que foram representaçãoes sensíveis porque são representações que nós recordamos, logo estão impressas na nossa memória. Por exemplo, quando eu me imagino na praia, eu tenho na minha memória uma representação do que é a praia.
Gilbert Durand é um antropólogo e pensador francês nascido em 1921 e conhecido pelo seu trabalho sobre os temas de imaginação e mitologia. Segundo Gilbert Durand foi Bergson que explicou de um modo explícito o papel biológico da imaginação a que ele chama função fabuladora. Para Bergnon a fabulação é um poder negativo da inteligência que se manifeta na consciência da morte. Assim, fabulação é como um instinto, é uma adaptabilidade à inteligência dos factos e consequentemente da morte, ou seja, os homens usam a imaginação para terem um projecto de vida como se pudessem de alguma forma contrariar a morte. René Lacrose concorda com Bergson afirmando que a imaginação é uma “evasão para longe da dura realidade”. Freud também concorda com as opiniões a cima menconadas pois para ele o facto de imaginarmos e desejarmos a morte destroi-a.
Antropológicamente, para Gilbet Durand a imaginação não existe como uma fuga à morte mas antes como um dinamismo positivo que tenta melhorar a situação do homem no mundo. Tem uma função de equilibrio biológico, psíquico e sociológico. Para ele a antropologia do imaginário não tem de ser um conjunto de imagens, metáforas ou temas poéticos mas deve antes ter a ambição de elaborar um conjunto de esperanças de receios do Homem de modo a que este se reconheça neste conjunto.
Bibliografia
Châtelet, F. (1981), História da Filosofia, Vol. IV, Lisboa: D. Quixote.
Durand, G. (1995), A imaginação Simbólica, Lisboa: Ed. 70.
Sites:
http://www.primeiraversao.unir.br/artigo7.html
http://www.consciencia.org/bachelarddisreinerio.shtml - importante!!!!!
http://andreviniciuspessoa.blogspot.com/2008/08/gaston-bachelard-e-pedagogia-da.html
http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3545/is_2_57/ai_n29056576?tag=content;col1
http://www.speedylook.com/Gilbert_Durand.html
http://psicologandonanet.blogspot.com/2008/04/sobre-gilbert-durand.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/Gilbert_Durand
Etiquetas:
Charles Pierce,
Gilbert Durand,
Imaginação,
Índice,
Signo
terça-feira, 28 de outubro de 2008
sábado, 25 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Subscrever:
Mensagens (Atom)