sábado, 8 de novembro de 2008

Trabalho de pesquisa - Índice | Imaginação

"A Imaginação é um poço sem fundo"
Hegel


Introdução


A ideia do meu trabalho começou por ser um conjunto de fotografias com marcas. Contar uma história apenas com marcas: uma pegada na relva, um céu cinzento etc. Estas marcas são chamadas índices. Com o evoluir da minha pesquisa acabei por decidir dividir o meu trabalho em duas partes, uma que consiste numa sequência de índices que contam uma história e outra que é um trabalho de imaginação por parte de quem vê/ ouve a apresentação. A mesma história que é contada com índices é completada com palavras ouvidas que levam outras imagens à mente de cada um, imagens essas que vão completar a história.
Para estudar estes dois temas baseei-me nos estudos dos autores Charles Pierce, fundador do conceito de Índice, e Gilbert Durand, antropólogo que se debruçou sobre o tema da imaginação.

Índice por Pierce

Começando pelo tema ìndice, Charles pierce (1839-1914), natural dos Estados Unidos, licenciou-se em Ciência e doutorou-se em Química, mas era também matemático, físico e astrónomo. Foi ele que fundou o Pragmatismo e a Semiótica- Ciência que estuda os signos. Para explicar o conceito de Índice, terei primeiro de tornar claro o conceito de signo.

Segundo Pierce, “todo o pensamento é um signo (...) Signo (...) é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém(...), cria na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido.(...) O signo representa alguma coisa, o seu objecto. Representa esse objecto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen”. (Pierce, 1977) São no fundo mensagens visuais que utilizam linguagens específicas. O mesmo signo pode ser interpretado de formas diferentes consoante a cultura, o local em que se encontra, ou o conhecimento da pessoa que o interpreta. São vários os factores que podem determinar o significado de um signo.
Para Pierce os signos dividem-se em três partes e a cada uma delas correspondem três tipos de signos. A primeira diz respeito à parte mais material do signo e engloba o qualisigno, o sensisigno e o legissigno. O primeiro é um signo que representa uma qualidade com uma côr, o segundo representa algo como uma toalha de praia e o último existe através de convenções como por exemplo as palavras.
O segundo grupo de signos tem a ver com as relações entre signos e os seus associados e englobam o ícone, o índice e o símbolo. O primeiro assemelha-se ao objecto representado como uma fotografia ou um desenho de algo como uma folha, é no fundo um signo imitativo pois a reprodução de um som também pode ser considerado um ícone; o índice, indica-nos alguma coisa como no ditado “Onde há fumo há fogo” ou o facto de ao vermos o céu cinzento já sabermos que vai chover, são no fundo sinais de que algo vai acontecer ou marcas de que algo já aconteceu; o segundo tem uma relação casual física com o que representa, e o último cria uma imagem mental do seu significado como por exemplo a um autocarro associamos imediamente passageiros.
O terceiro e último grupo é um nível de percepção mais elaborado e considera o signo para quem o interpreta. A este grupo pertencem os signos rema, dicissigno e argumento. Rema funciona como algo que se pode ou não verificar como a palavra amarelo, dicissigno é algo real que pode envolver remas como por exemplo: o amarelo está manchado e o último é um signo que tem significado no âmbito da razão.

Imaginação

Muitos autores têm reconhecido que a imaginação é uma actividade mental distinta da representação e da memória embora esteja ligada a ambas. Está ligada à representação porque surge no seguimento de um conjunto de elementos que foram representaçãoes sensíveis porque são representações que nós recordamos, logo estão impressas na nossa memória. Por exemplo, quando eu me imagino na praia, eu tenho na minha memória uma representação do que é a praia.
Gilbert Durand é um antropólogo e pensador francês nascido em 1921 e conhecido pelo seu trabalho sobre os temas de imaginação e mitologia. Segundo Gilbert Durand foi Bergson que explicou de um modo explícito o papel biológico da imaginação a que ele chama função fabuladora. Para Bergnon a fabulação é um poder negativo da inteligência que se manifeta na consciência da morte. Assim, fabulação é como um instinto, é uma adaptabilidade à inteligência dos factos e consequentemente da morte, ou seja, os homens usam a imaginação para terem um projecto de vida como se pudessem de alguma forma contrariar a morte. René Lacrose concorda com Bergson afirmando que a imaginação é uma “evasão para longe da dura realidade”. Freud também concorda com as opiniões a cima menconadas pois para ele o facto de imaginarmos e desejarmos a morte destroi-a.
Antropológicamente, para Gilbet Durand a imaginação não existe como uma fuga à morte mas antes como um dinamismo positivo que tenta melhorar a situação do homem no mundo. Tem uma função de equilibrio biológico, psíquico e sociológico. Para ele a antropologia do imaginário não tem de ser um conjunto de imagens, metáforas ou temas poéticos mas deve antes ter a ambição de elaborar um conjunto de esperanças de receios do Homem de modo a que este se reconheça neste conjunto.

Bibliografia

Châtelet, F. (1981), História da Filosofia, Vol. IV, Lisboa: D. Quixote.
Durand, G. (1995), A imaginação Simbólica, Lisboa: Ed. 70.
Sites:
http://www.primeiraversao.unir.br/artigo7.html
http://www.consciencia.org/bachelarddisreinerio.shtml - importante!!!!!
http://andreviniciuspessoa.blogspot.com/2008/08/gaston-bachelard-e-pedagogia-da.html
http://findarticles.com/p/articles/mi_hb3545/is_2_57/ai_n29056576?tag=content;col1
http://www.speedylook.com/Gilbert_Durand.html
http://psicologandonanet.blogspot.com/2008/04/sobre-gilbert-durand.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/Gilbert_Durand

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho muito interessante esta associação entre índice e imaginação. Como artista plástico este texto leva-me a reflectir sobre o acto criativo.