sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Freedom






Auto-representação

Na auto representação a pessoa deixa de existir, passando a existir o que está a representar. O artista tem a oportunidade de criar estados psicológicos visuais para construir ou desconstruir uma imagem. Substitui-se assim o auto-retrato convencional por um que pode ser chamado de irreal.

Um auto-retrato não é como um sonho, é como simulações de imagens de sonhos. O artista é manipulado, puxado e reconstruído num outro “estado” que não é real mas que caminha ao seu lado. Há portanto, uma multiplicação de personalidades, alter ego, representação de uma fantasia, é sempre um outro que é confrontado na auto-representação.

As minhas fotografias de auto representação são de uma performance feita por mim em 2003. Há aqui um acto de representação. Neste caso represento um ser não definido que se assemelha a um pássaro mas que vive preso numa gaiola e procura a liberdade. Embora no momento da performance fosse eu que estivesse ali consciente de mim, eu estava a representar uma personagem que vive fora de mim. Naquele momento viveu dentro de mim. Eu era o pássaro preso, triste, sozinho e em busca da liberdade

Pode-se concluir que na Auto-representação, existe uma vontade de desdobramento da personalidade em várias facetas, isto é, em várias identidades. Existe a divisão do Eu em vários Eus. Isto é explicado por Rimbaud no seu “Je est un autre” que assim coloca de fora a identificação ficando completamente livre.

Com maquilhagem ou mudança de roupas, o Eu pode-se tornar qualquer pessoa. O imaginário torna-se numa imagem. Dá um significado diferente ao aspecto do Eu. Foi precisamente o que aconteceu na minha auto-representação, a maquilhagem e figurinos reforçaram minha a encarnação naquela personagem. Ou seja, o aspecto exterior ajuda a criar um estado interior que não nos pertence mas sim à personagem que representamos.

Relativamente aos seus trabalhos Helena Almeida diz: “Não são auto-retratos pois não encontro neles a minha “subjectividade” mas sim o meu “plural” que faço comparecer numa espécie de cena.” Refere ainda que executa encenações dentro do seu espaço pictórico, considerando a sua tela como se de um palco se tratasse, onde surge como sendo uma ficção. Fala-nos de cenas e de narrativas , como se descrevesse uma cena em cima de um palco. Diz ”ser uma irrealidade”. No caso da minha auto-representação, ao contrario do caso de Helena Almeida, a acção não foi feita para ser registada em fotografias e para a obra apresentada ao público ser a fotografia, mas sim o oposto. Primeiro houve a ideia da acção e houve a representação e a fotografia acaba por surgir como consequência da acção e apenas para registo, não para servir como obra final. No entanto, não deixa por isso de ser auto-representação, pelo contrario, ainda reforça mais este conceito.

As fotografias estão a preto e branco para aumentar o contraste entre a minha personagem e o mundo que a rodeia e também para reforçar a ideia de irreal. São aqui apresentadas cinco fotografias porque achei que uma não seria suficiente para construir uma narrativa e porque estas imagens complementam-se umas às outras funcionando o conjunto como uma só auto-representação.

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