segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

colour_bubble # 57


No auto-retrato deparamo-nos com muitas questões, não é simplesmente olhar para outro rosto interpretado por um artista. Aqui, o artista e o sujeito são a mesma pessoa, portanto a dinâmica de interpretar, ler, analizar, envolve um ciclo de olhar para si próprio, representar-se a si próprio, revelar-se perante si próprio e ter um acto de auto-criação.
Enquanto que numa fotografia normal o artista tem apenas de se preocupar com a superfície que fica registada, num auto-retrato ele tem de conseguir ir além dessa superfície. As questões que se põem aos artistas é como é que eles conseguem ir mais além da superfície quando muitas vezes não há nada mais do que a superfície para trabalhar. Como a superfície é tudo o que há para ver e só se pode ver para além da superfície se esta for trabalhada, muitos artistas trabalham-na através da manipulação, gesto, expressão, roupa, maquilhagem etc.
O auto-retrato é uma representação do “eu”, um substituto que tomará o meu lugar, falará por mim, uma espécie de delegação do “eu”. Um auto-retrato nunca mostra tudo de uma pessoa, mostra apenas o que se quer mostrar, ou um estado de espírito, ou uma emoção ou uma faceta da pessoa ou até vários destes aspectos ao mesmo tempo. Pode tentar mostrar a essência do retratado mas uma personalidade é algo de tão complexo que não cabe toda numa só fotografia.
No meu auto retrato tentei transmitir o meu estado de espírito nesta fase da minha vida em que pela primeira vez estou grávida. É uma experiencia nova para mim e é também um estado de espírito constante. Sinto-me feliz, tranquila, relaxada e fisicamente sinto-me cheia, como uma bolha, mas ao mesmo tempo leve como uma bola de sabão. Fotografei-me na banheira cheia de água para transmitir precisamente a ideia da água, sinto que toda eu sou água. Por outro lado um banho de espuma transmite sempre a ideia de relaxamento. As laranjas também elas redondas e cheias, com as palhinhas são também para reforçar a ideia de lazer e de bem estar, é como estar ao ar livre a beber um sumo de laranja. Os óculos de sol servem também para reforçar o lazer, o ar livre, o relaxamento, a ideia de esplanada, de praia, no fundo, o bem-estar. Com as cores vivas da fotografia, das laranjas, toalhas, óculos, unhas, frasco das bolas de sabão, quis mostrar o meu lado mais pop e a minha forma colorida de ver a vida e de a viver.
Para chegar a esta fotografia foram tiradas 76. A encenação, posicionamento da câmara e enquadramento foram definidos por mim. O mais difícil neste processo foi encontrar a luz que eu queria que era uma luz muito clara e fresca para contrastar bem com as cores e mesmo para dar aquela ideia de banho igual a frescura.
O resultado final ficou exactamente como eu tinha imaginado, consegui transmitir o que queria e penso que esta fotografia mostra uma boa parte de mim neste momento da minha vida.

Sem comentários: